Aliados invisíveis: fungos e bactérias ajudam a restaurar florestas 6x6x20

Projeto RESTORE busca respostas na natureza para aumentar a resistência de florestas ao estresse hídrico 4e505j
Em um momento em que as mudanças climáticas impõem novos desafios às ações de reflorestamento em escala mundial, um grupo de pesquisadores do Paraná está liderando uma iniciativa ambiciosa a partir das soluções baseadas na natureza. O projeto NAPI Biodiversidade: RESTORE (natuRe-basEd SoluTions for imprOving REforestation) usa microrganismos, como fungos e bactérias, para aumentar a sobrevivência de mudas em áreas degradadas e tornar o reflorestamento mais resistente aos extremos climáticos.
Iniciativa pública criada no Paraná, o projeto RESTORE busca aumentar a resiliência das plantas a situações de estresse climático, como estiagem e chuvas torrenciais. O uso de microrganismos benéficos permite que os mesmos interajam com as plantas e o solo, promovendo o crescimento vegetal mesmo em condições adversas. A ideia é aplicar uma solução baseada na natureza para otimizar iniciativas de reflorestamento, afetadas em mais de 46% pela crise climática, segundo o MapBiomas.
Por trás do projeto estão pesquisadores de instituições como a Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Universidade Estadual de Maringá (UEM), a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e a Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Além da Fundação Araucária através do NAPI, o projeto conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) a nível nacional.

“As pesquisas têm explorado o isolamento, identificação, caracterização e aplicação de microrganismos para melhorar a resistência de mudas de árvores ao estresse hídrico em projetos de reflorestamento”, ressalta o coordenador do projeto, Halley Caixeta.
Solução baseada na natureza 4d5413
Os pesquisadores têm desenvolvido tecnologias como materiais biodegradáveis (tubetes, espumas, hidrogéis e bandejas de germinação feitos a partir de resíduos da agroindústria), bem como bactérias isoladas de solos florestais, instrumentos capazes de aumentar o crescimento, a captação de carbono e a resistência à seca de mudas de árvores.
André Oliveira, pesquisador do projeto, enfatiza que o potencial das soluções se baseia no fato de que os microrganismos ajudam as plantas a desenvolver mais raízes e assim podem manter a hidratação dos tecidos, a integridade das membranas celulares e a recuperação após períodos de estresse. “É importante a pesquisa não ficar só em artigos, teses, dissertações, porque os resultados serão ainda maiores se existir a troca com os públicos interessados”, diz.
Reflorestamento em escala mundial 67321b
Desde sua criação, o projeto RESTORE tem adotado uma abordagem multidisciplinar e internacional. Hoje, ele atua no estudo dos microbiomas do solo em três tipos de florestas: a Floresta Atlântica Semidecidual no Brasil, a Floresta Mediterrânea de Carvalho na França e a Floresta Temperada Úmida na Alemanha. Nesses ecossistemas, os pesquisadores isolaram mais de 2.800 microrganismos (entre bactérias e fungos) e os submeteram a análises filogenéticas e funcionais. As cepas com maior potencial para estimular o crescimento das plantas e aumentar sua resistência ao estresse foram testadas em mudas de quase 40 espécies arbóreas.
Para simular os efeitos da seca sobre as árvores, os testes impam diferentes níveis de estresse hídrico às mudas. Os pesquisadores avaliaram parâmetros como murcha, necrose, conteúdo relativo de água, potencial hídrico, condutância estomática, atividade fotossintética, marcadores de estresse oxidativo e medidas morfométricas.

Paralelamente, o grupo desenvolveu os materiais biodegradáveis inovadores, já citados. Também foram testadas nanopartículas com liberação controlada de compostos como óxido nítrico, ácido giberélico e ácido abscísico, mostrando bons resultados para o crescimento vegetal e a resistência ao estresse hídrico. Ensaios em campo e análises custo-benefício confirmaram que o uso de nanopartículas com óxido nítrico, por exemplo, ajuda a elevar a assimilação de carbono e reduz significativamente a mortalidade das mudas.
Além da base científica sólida, o projeto se preocupou em ouvir quem está na linha de frente da restauração florestal. Viveiristas e técnicos foram consultados por meio de pesquisas para avaliar a aceitação e aplicabilidade das soluções baseadas na natureza. Confira mais detalhes sobre o NAPI RESTORE no site do projeto.